Por Ògan Assogbá Luiz Alves - Projeto Oníbodê
Do Salão Oval ao Quintal das Américas: Como a Arrogância Colonial Ressurge nas Relações Internacionais
Em um ato que mistura ignorância histórica, desrespeito diplomático e uma visão colonialista ainda enraizada, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, protagonizou mais um capítulo vexatório nas relações internacionais. Durante uma entrevista coletiva no Salão Oval, Trump acusou o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa de acobertar um suposto "genocídio de fazendeiros brancos" na África do Sul, utilizando como "prova" uma foto falsa — na realidade, uma imagem do Congo —, em um gesto que expõe não apenas a desonestidade intelectual de sua retórica, mas também a persistência de uma lógica imperialista que enxerga o Sul Global como palco para suas narrativas distorcidas.
A Mentira como Arma Colonial: A Foto Falsa e a Humilhação Calculada
Ao exibir uma foto de conflito no Congo como se fosse evidência de violência na África do Sul, Trump não apenas desrespeitou Ramaphosa, mas também reforçou um estereótipo perverso: a ideia de que a África é um território indiferenciado, um "lugar sem história", onde fatos e contextos podem ser apagados em nome de uma agenda política. A resposta de Ramaphosa foi contundente: "De onde é essa foto?", questionou, seguido pela ironia afiada: "Eu não tenho avião para lhe dar" — uma referência direta ao jato recebido por Trump de magnatas árabes. A réplica do líder sul-africano não foi apenas uma defesa de sua nação, mas um golpe na hipocrisia de quem critica injustiças enquanto lucra com acordos obscuros.
Apartheid, Terra e Reparação: A Questão que Trump Ignora
A acusação de Trump sobre um "genocídio branco" é uma narrativa fabricada por grupos extremistas afrikaners — descendentes de colonizadores holandeses que, durante o apartheid (1948-1994), concentraram 87% das terras do país nas mãos de 7% da população branca, enquanto negros eram confinados a áreas sem recursos. Hoje, mesmo após o fim do regime, 72% das terras agrícolas permanecem com brancos, segundo o Instituto Sul-Africano de Relações Raciais. A reforma agrária proposta pelo governo de Ramaphosa busca corrigir esse legado de opressão, permitindo expropriações com compensação para redistribuição justa. Trump, no entanto, escolheu defender os privilégios de uma minoria branca, concedendo asilo a afrikaners que, diante da possibilidade de perder terras ilegitimamente acumuladas, espalham o mito da "perseguição".
O Brasil no Espelho da África do Sul: Terra, Raça e Resistência
A luta sul-africana ecoa diretamente no Brasil. Após a abolição da escravidão, em 1888, os negros foram excluídos do acesso à terra, perpetuando desigualdades que hoje colocam o país entre os mais desiguais do mundo. Assim como na África do Sul, movimentos como o MST e a luta por Quilombos desafiam estruturas secularmente racistas. Não por acaso, a postura de Trump ressoa com o discurso de ruralistas brasileiros que criminalizam sem-terra enquanto defendem latifúndios historicamente ilegítimos.
América Latina como "Quintal": A Doutrina Monroe Revisitada
A arrogância de Trump não se limita à África. Recentemente, representantes de seu governo declararam que os EUA precisam "retomar o controle de seu quintal" — referindo-se à América Latina como possessão colonial. A fala é um revival da Doutrina Monroe ("América para os americanos", ou melhor, "para os ianques"), que justificou golpes, ditaduras e intervenções ao longo do século XX. O deputado Eduardo Bolsonaro, em sintonia com essa lógica, pediu publicamente intervenção estadunidense no Brasil, em uma traição à soberania nacional que beira a ilegalidade.
Cultura Afro-Brasileira e a Resistência ao Imperialismo
Diante dessas ofensivas, a religiosidade e a cultura afro-brasileira emergem como trincheiras de resistência. Terreiros de Candomblé, quilombos e grupos de capoeira preservam não apenas tradições, mas uma cosmovisão anticolonial que desafia a lógica de dominação. A Umbanda, com seu lema "nem caridade, nem justiça, mas solidariedade", oferece um contraponto ético ao individualismo neoliberal. Em um mundo onde líderes como Trump tentam reescrever a história, essas tradições são atos políticos.
Soberania não se Negocia, Conquista-se
A postura de Trump contra Ramaphosa não é um incidente isolado: é parte de um projeto global de revisionismo histórico, onde potências do Norte buscam manter o controle sobre nações do Sul através de mentiras, intimidação e alianças com elites locais opressoras. A resposta do presidente sul-africano — assim como a resistência de movimentos negros no Brasil — nos lembra que a luta por terra, memória e soberania é indivisível. Enquanto houver aviões de luxo para magnatas e mentiras para justificar genocídios, haverá tambores ecoando em resistência.
#SoberaniaNãoSeVende #ForaTrumpismo #ReformaAgráriaJá.
Este texto é um chamado à conscientização sobre as lutas transnacionais contra o racismo e o colonialismo. A cultura afro-brasileira não é folclore: é resistência viva.
Que os orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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